uma vez, há um tantão de tempo, tava reclamando da vida com meu avô. dizia que tudo que eu queria na vida era ser linda e rica que nem a grace kelly (ou qualquer outra que é rica e linda). o vô, lá, ouvindo as minhas bobagens. o meu argumento era que a vida de quem é lindo e rico é muito mais fácil. o seu geraldo ouviu as minhas lamúrias, mas contra-argumentou que ser pobre e nem tão linda - ou feinha, mas ajeitada - ou engraçadinha (cara!!! engraçadinha é foda!!) - tem suas vantagens. olha só, disse ele, pelo menos você vai ter sempre a certeza que nenhum sujeito se aproximou de você por qualquer outro interesse, que não seja você. a pobreza e a economia na boniteza são um antídoto para os bichos escrotos. lembrei do meu avô porque hoje foi um dia que sem um motivo específico baixou a maior tristeza do mundo. os olhos estão em maré alta desde cedo e qualquer cenho franzido é o suficiente para eu ir buscar uns kleenex. decidi dar publicidade à minha tristeza. vai ver conseguia um colo, mas só o que rolou foi a recomendação de ir malhar e liberar endorfina. bom...podia, pelo menos ser outro o jeito da ativação do hormônio. aí, pensei na música do chico que conta a história da moça que tentou contra a existência no humilde barracão. a dor da mulher não saiu no jornal e nem a minha vai. eu que trate de me aprumar. ir correr amanhã. morrer numa grana no salão. ajeitar o cabelo, fazer a unha, comprar uma roupa, dar beijo na boca. enfim.....mas, não é que nisso o vô também tinha razão? compartilhar dor com o resto do mundo não é remédio, mas sim o veneno. imagina o mundo discutindo a sua dor? dando pitaco? se metendo? é....pensando bem...coitada da suzana vieira!
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