se você não tivesse me feito a enorme bobagem de morrer aos trinta, faria setenta anos neste dia 24 de abril. com certeza estaríamos nesta semana preparando uma enorme festa para o sábado, na qual iríamos convidar a parentalha toda. viria gente de metade de goiás, mais uns tanto de outros cantos do país. os meninos chegariam de são paulo com aquela renca de filhos. como você adorava uma música sertaneja, talvez teríamos contratado uma dupla para tocar apenas aquelas modas de antigamente. apesar de eu ser ainda um trisco de gente, me lembro como se fosse hoje o tanto que você gostava do menino da porteira e da história do joão de barro. duas canções que eu já achava tristíssimas aos seis anos e que hoje considero ainda mais doídas. mas, você gostava muito. eu bateria o pé para que a dupla cantasse os sucessos dos moços de pirinópolis e mais umas outras do xororó e do irmão dele. talvez porque eu não tive a oportunidade de virar gente grande com você, acabei não apanhando tanto amor pelo sertanejo. sou mais do rock, do samba e de uma boa música popular brasileira do tipo chico, caetano e djavan. em compensação, morro e vivo por conta de uma comida goiana. gosto de quase tudo, menos de quiabo e de jiló. mas, do resto....e a nossa festa seria farta de comida goiana. a mãe arranjaria uma bela de uma equipe de cozinheiros e cuidaria para que a pamonha fosse salgada, a empada com muita pimenta e a galinha devidamente cabidelada. para beber? cerveja, é claro. em festa de goiano não tem isso de bebida muito metida a besta. muita cerveja gelada e uns tragos de pinga para aquecer o coração. aproveitaríamos a festa para comemorar a formatura do seu neto mais velho. pois é. perdeu isso também. ontem foi a formatura dele e aposto que você iria estar ao nosso lado explodindo de orgulho. afinal, depois de assistir seus três filhos com o canudo de uma universidade pública, seria uma alegria danada ver que os netos estão tomando o mesmo rumo. na festa, você iria me pedir uns cigarros escondidos, porque duvido que a mãe deixaria que você ainda fumasse aos 70. por isso, clandestinamente, iríamos acender dois carlton e fumar no fundo do quintal. depois, dá-lhe balinhas para disfarçar o cheiro da nicotina. mas, também aposto que ela faria de conta que não percebera. afinal, estaria tão transbordando de alegria, que não iria se importar com essa bobagem. a noite seria de festa! momento de celebrar! momento de reafirmar o nosso enorme amor. pois é. não vai ter a comemoração. o sábado vai ser só mais um sábado. esta quinta, 24 de abril, apenas mais uma quinta. e eu? eu só posso me recolher à minha tristeza de não ter a chance de comemorar os seus setenta anos! beijo!
Não me esqueci. Já comemorei silenciosamente.
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