sábado, 18 de julho de 2015

to be old

Ser e estar em inglês é a mesma palavra. I’m old tanto vale para sou velha quanto para estou velha. Mas, em bom português, a diferença é bastante razoável. Nesse dia de aniversário, quando me aproximo – ainda falta um pouco gente – perigosamente dos cinquenta preciso admitir que quase sou velha, mas estou longe disso. Passei a detestar meus aniversários lá pelos 37 anos, a não ser, é claro, a parte de ganhar presentes. Cada ano que passa vem galopante a sensação que meu tempo está se esgotando e como eu gosto demais da conta disso de viver é tudo muito angustiante. Aos meus 16 ou 15 anos tinha a certeza de que não passaria dos 35. Isso porque meu pai morreu com trinta e poucos e estava certa que repetiria essa sina. Bom, tô bem viva de marré de si. Aos 40 a angústia foi outra. Pirei para saber como deveria me comportar a partir de então, quais roupas usar. Não tinha a menor ideia se poderia continuar frequentando os meus botecos favoritos, ou fazer sexo casual, ou dar risadas altas, ou me emocionar em momentos inapropriados. Essa é a palavra: inapropriada. Como eu deveria me comportar a partir dos 40? Promovi algumas mudanças. As saias ficaram mais compridas. Nada de barriga de fora. Tentei ser mais contida, mas desconfio que nada funcionou muito bem. Quando me olho o espelho grita que engordei vinte quilos desde os 18 anos. Quilos esses que tento desesperadamente fazer sumir, mas que teimam em ficar por aqui. Eles simplesmente decidiram que é nesse meu corpinho bacana que eles querem morar. O rosto, graças à doutora Clara, continua esticadinho. Pode ser que por ser otimista que a imagem refletida me é bastante camarada. Não enxergo a mulher de quase 50 – repito que ainda falta um tanto. O complicado, no entanto, é que eu não consigo estar velha, apesar de ser. O meu espírito de porco continua firme e forte. Tenho ainda sonhos adolescentes, como o de conhecer o mundo, começar outra carreira, ter mais um filho, quem sabe. Tenho a esperança e os sonhos como guia. Me recuso a entregar os pontos. Além disso, não dou conta ainda de me vestir adequadamente como uma senhora. Meu armário coleciona jeans, camisetas transadas, tênis, sandalinhas rasteiras e vestidos maneiros. Não tenho um único paletó, uma calça de linho, um scarpin ou uma saia lápis. Inapropriado é meu guarda-roupa. Talvez o reflexo da minha própria inapropriação. Mais um ano se passou. I’m old, but i’m not old e continuo inapropriada.