quinta-feira, 30 de outubro de 2014

seduz, caboclo, seduz!

a moça ficou muitos anos casada e deve ter perdido o bonde das novas relações. vai ver ainda é uma amante à moda antiga, mas não do tipo que morre por causa de flores, mesmo porque sempre curte mais os cartões - apesar de adorar quando o moço da floricultura bate na porta. acho que ela ainda é da categoria que curte muito o flerte, o jogo da sedução. me contou algumas lindas histórias de amor que viveu. um dia. quase uma menina, num show da cássia no bom demais. show que apenas ouvia, porque a mocinha na época preferia não enxergar um palmo na frente, do que se conformar em sair à noite com a quase lupa que corrigia uns dez graus de miopia. bom, mas naquele show um moço chegou junto e foi logo chutando a canela: como você é metida! além de quase uma mrs magoo, essa minha amiga era e é muito mal criada. qual é, cara? já chega batendo? ele riu e disse que a paquerava há um tempão e ela necas de dar bola. como o sujeito era um gato - de perto ela enxergava - explicou que não era soberba, mas cegueira. rapaz sentou na mesa. muitas risadas juntos. no dia seguinte, um cineminha, depois um beirute, depois uma visita surpresa dele na unb, depois uma flor catada na rua, meia dúzia de bilhetinhos lindos. eles se casaram uns meses depois. foram doze anos de um casamento feliz. um colega de firma. horas ao telefone, bilhetinhos fofos no para-brisa, caixinhas de chocolate amargo, comidinhas deliciosas que ora ele cozinhava e ora os dois descobriam em pequenos restaurantes da cidade. viagens rápidas, mais bilhetes fofos. se casaram alguns meses depois. em comum, entre esses dois homens, me conta ela, é o gosto pela sedução. em comum entre eles o jogo do apaixonar. um lance meio devagar, que esfria e esquenta...que encanta, que faz nascer a vontade de ver de novo...de novo...e de novo....pode ser que ela não esteja numa maré muito de sorte, ou pode ser que ficou cafona a brincadeira de seduzir, mas me diz que morre de saudade de uma boa disputa de sedução. seduz, caboclo, seduz!

terça-feira, 22 de julho de 2014

tpm

poucas coisas me irritam tanto quanto ouvir o comentário: tá nervosinha? deve ser tpm! como se eu não desse conta de ficar igualmente nervosinha nos 365 dias do ano. nunca fui muito de sofrer no período que antecede a menstruação, apesar de os peitos já enormes dobrarem de tamanho e a barriga passar a acreditar que está com seis meses de gravidez. mas, vez em quando me percebo muito mais brava do que o normal. faço umas contas e pimba! é a tal da tpm. hoje mesmo, quase saí no tapa com umas quatro pessoas diferentes. tudo bem que é absurdamente irritante não conseguir trocar um presente - experimenta fazer aniversário em períodos de liquidação para ver o que é bom para tosse - mas nada justificaria o impulso de ira que tomou conta da minha pessoa quando a vendedora veio com aquela conversinha: não trocamos produtos em promoção! pô! só queria um número menor! nem era para me dar outro modelo...só um 36! mas, dei uma respirada e consegui controlar a fúria galopante - quando eu era pequena, a minha avó me ameaçava com pneumonias galopantes cada vez que eu saía sem chinelos do banho fervendo. até hoje não sei bem como é essa tal pneumonia. raiva contida...decidi que um pretzel ajudaria - como de fato ajudou! mas, andando pelo shopping comecei a rir de mim. me toquei que passei uma hora e meia no salão xingando as revistas de mulherzinha! na caras a reportagem de uma atriz, modelo, manequim, manicure que teve filho há um mês e estava estonteante! sem uma mancha no rosto! cabelo lindo! vamos combinar que ninguém fica linda com filho recém-nascido. é um embagulhamento total. não dá tempo de cuidar da cabeleira, unha para fazer. as olheiras chegam na bochecha! aquela pança murcha e duas rodelas na camiseta! mas, se não fosse pela infeliz da tpm, nem teria ligado..só, daria uma risadinha e pensaria nos milagres do photoshop! bom..o jeito agora é brincar de estátua e fazer uma novena para que o sangue chegue logo! ah! e um conselho..quando a sua moça estiver com tpm, economize nas gracinhas e nunca solte: tá nervosinha, é?? nervosinha é a PQP!

domingo, 20 de julho de 2014

envelhecer..

depois dos 35 anos, fazer aniversário virou uma tortura. de um lado eu adoro receber o carinho que vem de todos os lados e que me enche a alma da mais completa alegria. de outro, bate aquela total paúra de estar absolutamente despreparada para o envelhecer que chega aos galopes. caramba! até um dia desses, eu era aquela menina que subia em todas as árvores que surgiam na minha frente. uma menina que vivia encardida da terra vermelha de brasília, porque simplesmente não conseguia dar conta de ficar em casa quietinha brincando de boneca. até dia desses, eu estava com meus amigos tão queridos do colégio dom bosco e depois metidésima estudando na unb. desfilava pelo minhocão como se todo aquele espaço me pertencesse. foi outro dia que decidi que não seria mais virgem, para acabar de vez com o que eu considerava uma bobagem. foi outro dia que no bom demais vi por muitas vezes a cássia cantar. no bom demais conheci o moço que seria o pai dos meus filhos. dia desses, eu estava em casa sozinha quando me peguei fazendo xixi nas calças, mas nem era isso, mas uma tal de bolsa estourando - minha amiga nina cláudia que me acudiu. dia desses eu quase morri de dor esperando por doze horas por um tal de parto normal - afinal eu era uma menina saudável e queria muito. foi dia desses que o mais novo se automatriculou na escola e não satisfeito não derramou uma única lágrima, enquanto todas as demais crianças se esgoelavam. foi dia desses que eu encontrei o amor de novo. e também dia desses que eu senti na pele o quanto dói a dor do amor. sabe dor que dói a pele? dia desses eu arrumei um empregão, num momento em que tinha a certeza que não daria para a coisa. dois filhos, um livro, muitos textos, alguns prêmios, uma casa, muitos bichos que já passaram e passam todo dia. a vida voa...e a sensação é que está rápido demais. não rola uma pausa? tipo um período sabático - sem aniversários, sem presentes, sem comemorações deliciosas, mas, em compensação - o corpo congela e não envelhece uma célula? não, rola, né! então, o jeito é celebrar a vida. a sorte danada de ser amada por tanta gente. a sorte danada de ter saúde e uma esperança infinita e teimosa.. acima de tudo, a sorte enorme de ter tão intocada a capacidade de sonhar e de ousar! ah! calendário! te pego lá fora!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

os 70 anos não celebrados

se você não tivesse me feito a enorme bobagem de morrer aos trinta, faria setenta anos neste dia 24 de abril. com certeza estaríamos nesta semana preparando uma enorme festa para o sábado, na qual iríamos convidar a parentalha toda. viria gente de metade de goiás, mais uns tanto de outros cantos do país. os meninos chegariam de são paulo com aquela renca de filhos. como você adorava uma música sertaneja, talvez teríamos contratado uma dupla para tocar apenas aquelas modas de antigamente. apesar de eu ser ainda um trisco de gente, me lembro como se fosse hoje o tanto que você gostava do menino da porteira e da história do joão de barro. duas canções que eu já achava tristíssimas aos seis anos e que hoje considero ainda mais doídas. mas, você gostava muito. eu bateria o pé para que a dupla cantasse os sucessos dos moços de pirinópolis e mais umas outras do xororó e do irmão dele. talvez porque eu não tive a oportunidade de virar gente grande com você, acabei não apanhando tanto amor pelo sertanejo. sou mais do rock, do samba e de uma boa música popular brasileira do tipo chico, caetano e djavan. em compensação, morro e vivo por conta de uma comida goiana. gosto de quase tudo, menos de quiabo e de jiló. mas, do resto....e a nossa festa seria farta de comida goiana. a mãe arranjaria uma bela de uma equipe de cozinheiros e cuidaria para que a pamonha fosse salgada, a empada com muita pimenta e a galinha devidamente cabidelada. para beber? cerveja, é claro. em festa de goiano não tem isso de bebida muito metida a besta. muita cerveja gelada e uns tragos de pinga para aquecer o coração. aproveitaríamos a festa para comemorar a formatura do seu neto mais velho. pois é. perdeu isso também. ontem foi a formatura dele e aposto que você iria estar ao nosso lado explodindo de orgulho. afinal, depois de assistir seus três filhos com o canudo de uma universidade pública, seria uma alegria danada ver que os netos estão tomando o mesmo rumo. na festa, você iria me pedir uns cigarros escondidos, porque duvido que a mãe deixaria que você ainda fumasse aos 70. por isso, clandestinamente, iríamos acender dois carlton e fumar no fundo do quintal. depois, dá-lhe balinhas para disfarçar o cheiro da nicotina. mas, também aposto que ela faria de conta que não percebera. afinal, estaria tão transbordando de alegria, que não iria se importar com essa bobagem. a noite seria de festa! momento de celebrar! momento de reafirmar o nosso enorme amor. pois é. não vai ter a comemoração. o sábado vai ser só mais um sábado. esta quinta, 24 de abril, apenas mais uma quinta. e eu? eu só posso me recolher à minha tristeza de não ter a chance de comemorar os seus setenta anos! beijo!