sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

jesus não tem dentes no país dos banguelas

faço parte de uma minoria. tenho todos os meus dentes, contando aí os quatro sisos. são todos meus. é claro que alguns estrupiados por conta da má escovação na infância, um aparelho de dentes móvel, mania de mastigar tampas de caneta e por aí vai. mas estão todos lá. um ao lado do outro. como crianças em ciranda, só que não apenas de mãos dadas. um apoiando o próximo, dando conforto ao companheiro. pesquisei e aprendi que metade dos brasileiros entre 35 e 45 anos já perdeu ao menos 12 dentes e cerca de 80% dos idosos no país têm menos de 20 dentes. sou, portanto uma minoria e sempre fiz a mais absoluta questão de continuar a ser. pode parecer uma bobagem e confesso que até é. mesmo se perder cinco deles vou continuar a ser minoria. se tiver em mente a fome na somália, a aids em alguns países africanos, a opressão às mulheres em algumas nações mulçumanas, a dor das mães de jovens paulistas que perdem a vida todo o dia, meus dentes são absurdamente insignificantes. e assim eram, pelo menos para mim, até uns dez dias atrás. eles não costumam criar caso e nem mostrar suas figuras na medina. são amareladamente discretos. mas um deles resolveu ser protagonista de um show. um espetáculo solo. começou com uma dor boba, que foi aumentando, crescendo. até que decidiu ficar insuportável. médico, injeção, remédio, enjoo por causa do remédio, angústia, astral no pé. socorro da minha dentista linda, lágrimas, soluços...mas sem um diagnóstico preciso. só uma tomografia poderia responder. assim aconteceu e a alternativa mais provável é que deixarei de ser dona desse dente. será substuído por um de mentirinha..coração completamente partido. uma tristeza danada. sei que é uma mais completa besteira...sei que nada vai mudar na minha vidinha depois de não ter mais meus 32 dentes, mas simplesmente não consigo deixar de me importar muito. a ciranda será quebrada. o pré-molar do lado esquerdo em baixo vai ficar desamparado. sem ter em quem encostar o ombro..imagina a sensação dele! depois de anos e anos vai estar sem um colo. ah! "vou chorar. desculpa, mas eu vou chorar" e posso me consolar ao saber que jesus não tem dentes no país dos banguelas...vou virar uma banguela!!!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

o meu natal

ontem foi dia de montar a nossa árvore de natal. curto demais da conta esse ritual, que nos últimos anos tenho feito apenas com os dois meninos...a nossa árvore tem história. ela, em si, é velha de marré e muitos dos enfeites são do meu primeiro natal como mãe...alguns estão meio estrupiados..faltam uns pedacinhos, mas há 23 anos, todo dezembro, eles saem da caixa e enfeitam a nossa sala - claro que há renovações constantes. e há regras..para começar, é o manoel quem decide o dia de montar a árvore...ele vai na despensa, pega a dita-cuja, monta lá fora para espantar o mofo e posta no lugarzinho certo...não fala nada..simplesmente avisa que chegou a hora...ao mais velho cabe a função de espetar a estrela no alto da árvore, mesmo porque só ele alcança..o mais novo é responsável por passar os fios das luzinhas e ele sempre nos lembra que isso é a primeira providência...fica muito mais difícil com os enfeites já pendurados. eu escolho a trilha sonora e convoco a moçada. normalmente é um ritual animado com cerveja..essa minha boa relação com o natal é meio complicada de explicar...não existe qualquer conotação religiosa. tanto é que um querido nunca me deseja feliz natal...sempre é: bom feriado. ainda assim, eu adoro...amo comprar milhares de presentes...amo ganhar milhares de presentes..reclamo da festa no dia seguinte - sempre reclamo, mas adoro. a casa fica cheia..protesto também aos montes...pareço uma velha resmungando da luz esquecida acesa, do uso do meu banheiro, da população que deita comigo na cama, nos ataques ao meu closet, mas simplesmente amo. é chegou o natal, mas o melhor de tudo é que 2012 está quase partindo...nem vou sentir saudades...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

os anjos

sou uma descrente. não creio em nada sobrenatural. sou fã da ciência e tenho a absoluta certeza que tudo vai acabar no momento em que meu cérebro parar de funcionar. sem segunda chance ou um recall. o bom dessa minha certeza é que se eu estiver errada, a surpresa vai ser um espetáculo. mas, se não tenho crença no divino ou em qualquer espécie de divindade, eu tenho uma fé absurda no ser humano. gosto dos homens, apesar de alguns não corresponderem muito. sim, há pessoas más. pessoas que fazem maldade. ou pior, pessoas que gostam de fazer maldades, mas a maioria, pelo menos entre as que conheço, é boa. gente boa. e entre essas, há os que são anjos. anjos que quando eu estou em apuros cuidam de mim e, o melhor, o cuidado é totalmente de grátis. ou não..mesmo porque muitos desses sabem que eu também posso ser um anjo, apesar de algumas feiúras que pratico de quando em vez...mas, apesar de fazer certas coisas horrorosas, estou bem longe de ser uma pessoa horrorosa. dia desse eu senti uma dor absurda. soube exatamente quem poderia me ajudar. uma ligação e esse anjo estacionou o carro aqui na minha porta em dez minutos. me levou ao hospital, olhou para mim com carinha de pena enquanto a minha veia era enchida por remedinhos. me deu de comer e me entregou em casa. na manhã seguinte, eu precisei de mais cuidados. e mais um anjo, ou anja. ela desmarcou a agenda para cuidar de mim..procurou jeitos para fazer a dor diminuir e eu poder pegar um avião..lá pelas tantas não suportei  e chorei.... a anja não deu conta e chorou junto..ela sabia o tamanho do sofrimento físico...e por aí vai..outra anja cuidou de mim na viagem...o anjo do hospital me levou ao cinema no sábado  para ver o filme mais bobo do mundo...mas esse anjo me conhece e sabe o tanto que um filme ruim, um balde de pipoca e um de coca zero me fazem bem...e são muitos outros anjos. quando a grana encurta mais do que devia há um de plantão para ajudar..quando estou louca para viajar, lá vem outro...morta de fome, lá vem um com a mão cheia de pão de queijo...esses anjos só aumentam a minha fé na vida, minha fé no homem, minha fé no que virá...