sábado, 30 de outubro de 2010

rehab

toca o celular. era a karina. grandes coisas. ela me liga umas quatro vezes por dia. não é uma reclamação. amo quando ela me liga e o fato de ela me ligar. duvido e faço pouco se há no mundo duas irmãs que se amam tanto que nem nós duas. mas, era ela. podia ser o george clooney. se bem que ele não sabe meu número. tenho que comunica-lo! bom...me vira a dona ana karina: tenho uma boa notícia!!! qual mesmo? depois de um longo e tenebroso inverno, sem cantorias da cigarra, você voltou a, de verdade, abrir espaço na sua alma para o amor! você está, de verdade, se envolvendo!! e não é que ela tem razão!!! adorei o aviso. possa ser que não dê certo. aliás, tenho quase a certeza que o simão não vai ser o tal, mas só de eu estar me permitindo, de novo, me envolver, já vale uma festa!!! valeu, pelo toque, minha querida!!!

o entulho

já há algum tempo que meu computador está na unidade de terapia intensiva. na verdade, ele está precisando mudar de casa e abrir espaço para outro. mas há dois problemas. o primeiro é que eu tenho a psicopata mania de me apegar a máquinas. morro de pena de passar adiante as que não me servem mais. cada vez que tenho que vender um carro é um suplício. passo dias e dias pensando se o novo dono vai ser carinhoso, se vai só cuidar dele em boas lojas, se vai explicar para ele o que pode e o que não pode. se vai dividir com o carro as angústias da vida. passo um tempão no carro. ele é meu brother, como diz o fragoso. não dá para simplesmente abandona-lo numa concessionária da vida. uns tempos atrás, a máquina de lavar emburrou de vez. chamei o moço, e ele muito dos constrangidos me disse que não havia mais no mercado peças para a reposição, porque o equipamento já tinha uns trinta anos. quase morri de tão ofendida que fiquei. quer dizer que quem trinta não pode ser recauchutado? qual é, meu irmão!!! bom. mas como não teve outro jeito, comprei uma nova. mas juro de pés juntos até hoje que a velhinha era muitas vezes melhor. lavava que era uma beleza. mas voltando ao computador. não dá mais. ando passando muita raiva e como estou numa fase pós-obra, que dinheiro está mais em extinção que o mico leão dourado - esse é o segundo problema, decidi que, pelo menos, chegou o momento de dar uma tal de formatada. o moço formatador me disse: olha - para você não perder nada, grava tudo que tem aí em dvds. é o que estou fazendo há uns dois dias. incrível como há informação nessa maquininha!! tantas mil fotos, tantas mil músicas, outros tantos e-mails, documentos e por aí vai. tô que tô salvando tudo, mas tô aqui matutando com os bordados do meu vestido. será mesmo que preciso guardar isso tudo. ou melhor? por que diabos, isso tudo está guardado? nem ouço mais essa música. que foto mais feia! o que eu queria dizer com esse documento. em suma! o meu computador é meio que nem minha vida. tá lá muito do essencial e muito que vai me fazer falta. lembranças de momentos mais que felizes gravados em fotos. canções que amo e que não canso de ouvir. em compensação, há um monte de entulho. de tranqueira. bem que eu podia aproveitar a formatada da máquina e escolher o que eu quero guardar. o resto bem que podia tomar o rumo da lixeira. providência igual devia fazer na minha vida. reservar o que importa e o resto descartar. se eu fizer uma triagem no meu guarda-roupa, pelo menos um quarto do que está por lá pode sair. se eu fizer uma triagem na minha vida, tenho a certeza que vou encontrar um tanto de histórias, pessoas e experiências que merecem ir cantar em outra freguesia. acho que devia aproveitar o momento. formata a máquina e formata a larissa. uma chance de recomeçar com o hd zerado!!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

de onde vem

a maior parte da minha vida escolar foi em escolas de padres ou de freiras. no madre carmem sallés eu fiquei por uns dois anos. ao final do último deles, a minha mãe foi chamada, e comunicaram que eu não podia estudar mais lá, por conta do meu comportamento. o meu "crime" foi ter mandado uma freira para aquele lugar, porque ela tinha me acusado de roubar uma caneta...eu era levada, mas ladra não sou, nem nunca fui. muito bem. eu e os meus irmãos mudamos de colégio. fomos para um que era dirigido por padres. naquela época, aqui em brasília, a igreja católica organizava encontros de adolescentes. todos, absolutamente todos os meus amigos e colegas que quiseram foram aos tais encontros. menos eu. protestei em casa. afinal das contas, os que iam, diziam o tanto que era divertido.  e lá foi a senhora minha mãe lá de novo ver qual era. dessa vez, o padre diretor - de alcunha leleco - explicou que eu era uma tremenda líder, mas uma líder do mal. exercia uma liderança negativa e se me deixassem eu ir a tais encontros, eu iria atrapalhar. então tá, então..o que significava ser líder negativa? eu fazia bagunça demais na sala de aula? não! eu tirava notas baixas? não! eu incitava a turma contra os professores? não!! eu explodia privadas? claro que não!! era uma aluna bem boa. vez em quando, eu me ferrava em matemática e em física. mas isso acontecia comigo e com a metade da torcida do glorioso. quem que entende alguma coisa de física e de matemática? só os desajustadinhos. a minha má liderança, achou eu, resultado da mania que tinha e ainda tenho de contestar. eu simplesmente não me conformava com as bobagens que eu ouvia nas aulas de religião. uma vez ouvi que sexo só podia no casamento...peloamordedeus, né!!! lógico que protestei. de outra, que até no casamento, só para procriar. aí, não me aguentei. perguntei se era assim, por que mesmo que havia prazer no sexo, se era um pecado tão feio?? e olha só. nessa época eu era virgem de marré de si! e por aí vai...a professora de religião falava bobagem e lá ia a dona larissa levantando a mãozinha para protestar!!! gostei da brincadeira e nunca mais parei. eu estava no segundo grau. era uma menina. uns 15 anos, quando me mandei para frente do congresso nacional para acompanhar do lado de fora a votação da emenda das diretas! estava no meio da estudantada que fugiu dos cavalos e cassetetes do general nilton cruz! morro de inveja dos estudantes que brigaram contra a ditadura militar. e o pior ou o melhor que ainda sou assim. só não me convenci ainda de que sou uma líder do mal!!!

sábado, 9 de outubro de 2010

me arretei - parte dois

fazia já um tempão que não ficava tão brava que nem fiquei essa semana. simplesmente não acreditei quando o tse divulgou que teríamos segundo turno aqui em brasília entre agnelo e weslian roriz, porque uma turma resolveu por bem despejar seus votos em outros candidatos, que não os dois. tá certo...o voto é uma decisão individual, intransferível e cada um deve faze-lo em respeito ao que manda a sua consciência. mas, eu acho simplesmente inadmissível não pensar no bem de toda a sociedade na hora do voto, mesmo que isso signifique escolher um candidato que não seja exatamente o que você quer. resultado é que iremos às nossas seções eleitorais de novo aqui em brasília e como em qualquer pleito, o resultado é um enigma. ninguém sabe o que vai sair dar urnas. pode ser que a moçada coloque a mão na consciência e evite o pior. mas, pode ser também que resolvam emendar o feriado e não votar e assim, a dona weslian passar a ocupar o palácio do buriti em janeiro do ano que vem. e aí, eu quero ver os que deram o tal voto ideológico reclamar...aliás, sugiro que não façam isso perto de mim de jeito nenhum...as consequências serão péssimas. mas..só me resta agora fazer campanha e torcer muito. ah! por favor!! pensa bem na hora de votar no dia 31. a cinquentona brasília vai te agradecer muito!

me arretei

eu tinha 18 anos e há pouco mais de três meses, estava com um namorado novo. estudava na universidade de brasília e  tinha uma vida sexual ativa. resumindo: eu transava com meus namorados. isso eram os anos 80, quando o fantasma da aids ainda não era tão monstruoso e o mundo respirava ainda os ares de libertação que haviam soprado nos sessenta e setenta. um belo dia acordei enjoada. eu tenho um estômago de  avestruz. nunca enjôo. a menstruação atrasou e decidi fazer um exame de gravidez. a verdade estava naquele envelope. 18 anos, universitária, namorado novo e grávida. muito grávida. no começo, curti a história. achei que seria muito bom ser mãe cedo - afinal, eu e o bebê poderíamos crescer juntos. eu teria bastante energia para cuidar dele e por aí vai. o namorado também achou que devíamos ter a criança. até que um dia, a minha ficha caiu. eu simplesmente não tinha a menor condição de ser mãe naquele momento. eu não era madura, não tinha um emprego razoável, ainda uns dois anos e meio de universidade, o namoro era recente. enfim, estava errado. tudo errado. preciso salientar que o meu corpo nunca foi amigo de pílulas anticoncepcionais. me faziam muito mal. o método usado era o coito interrompido e a camisinha. é lógico que ia dar merda. com a decisão tomada de não ser mãe aos 18, me restava arranjar o que fazer para não ser. a minha sorte imensa é a família que tenho e sou muito grata por isso. procurei minha mãe. contei a ela o que estava acontecendo e pedi ajuda. ela me ajudou e pelo resto da minha vida vou ser agradecida por isso. descobrimos uma clínica no rio de janeiro, ela me deu o dinheiro, comprou as passagens e ajeitou um lugar para eu ficar antes de voltar para casa. o namorado foi comigo. mas, apesar de todos esses cuidados e apoio, devem ter sido, até hoje, os dias mais difíceis da minha vida. para começar, eu estava com a péssima sensação de estar cometendo um erro - que depois a vida provou que não. morta de medo de ser presa - afinal, abortar é crime nesse país atrasado onde eu nasci. aterrorizada com a possibilidade de morrer na hora da sucção, ou que isso me deixasse sequelas. chorava sem parar. o fantasma da culpa rondava. eu estudei em escolas católicas a vida inteira e por diversas vezes, vi aquele filminho de fetos abortados. me sentia uma assassina. o tempo...ó, tempo, que é o remédio para quase todas as dores, tratou de curar a ferida. uns dez meses depois, eu me casei com esse namorado. uns dois anos depois, eu fiquei grávida de novo. ainda era estudante, mas já tinha casado, tínhamos uma vida precariamente organizada, mas já era alguma coisa. aí, decidimos levar a gravidez até o fim. foi muito difícil cuidar do nenê. como diz o djavan, só eu sei, as esquinas por que passei. mas, sobrevivemos. o que restou disso tudo é a minha mais absoluta certeza de que não há qualquer cabimento que outras meninas - como eu era..que outras mulheres passem por essa situação. e olha que eu sou da chamada classe alta. a minha família pagou para que eu tivesse o melhor tratamento possível. se eu fizesse parte da imensidão de miseráveis, provavelmente não estaria aqui digitando essa história. milhares de mulheres perdem a vida em abortos mal feitos. bom...acho que não deveria ter escrito isso. é uma passagem muito íntima da minha vida. o que me motivou, porém, foi esse assunto ter sido transformado no tema da semana. eu não votaria nunca em josé serra, por mais diferentes razões. mas...senhor candidato, o meu voto na urna no seu número significaria, pelo menos para mim, que eu não gosto das mulheres. significaria que eu quero ser conivente com uma realidade que considero monstruosa, de pessoas terem que recorrer à clandestinidade, correndo todos os riscos possíveis. isso sim eu considero um crime. ah! preciso esclarecer ainda que achei tão ruim, mas tão ruim ter abortado, que não repeti a dose. quero ser mico leão dourado se alguma mulher desse mundo vá dizer que interrompe uma gravidez sem sofrimento. não é assim. a dor é enorme. nenhuma mulher é favor do aborto. só são favoráveis os donos de clínicas clandestinas e os bandidos que ganham a vida explorando esse serviço. o que eu defendo e vou morrer defendendo é que eu ou a ana da favela do vidigal possamos receber um atendimento digno, com cuidado e responsável se resolvermos que não é a melhor hora de botar mais um moleque no mundo. só isso que eu quero...é pouco...muito pouco..