domingo, 30 de maio de 2010

china in box

mãe, você não nasceu para comer em restaurante chique. você é do tipo china in box! ouvi tal impropério do meu filho hoje de manhã. melhor contextualizar. sabe aquela minha amiga que vai me levar cigarro e coca zero quando eu for presa? pois é. ela ganhou num sorteio um jantar de quinhentas pilas. como ela está em uma fase marido less, e decidiu que convidar um moço para jantar e pagar uma conta de quinhentão é por demais esquisito, resolveu que seria com amigas queridas que iria se esbaldar em um restaurante metido a besta. escolhemos um dos mais ins e lá fomos nós. todas no chiquê do chiquê. chegamos ao palco da orgia gastronômica e fomos encaminhadas à mesa por um sujeito que tinha a manha de rebolar mais do que nós três juntas (a lelê também foi). mas, beleza. a ideia era comer e beber bem e não lançar olhares de lince à procura de caçadores. devidamente sentadinhas, o garçom levou uns dez minutos para chegar com o cardápio de bebidas. pra variar, fiquei longe do vinho e fui de bloody mary. só um, porque eu era a motorista da rodada. o pior é que toda santa vez que não bebo por conta da lei seca, necas de catibiriba de blitz. ninguém perguntou se a gente queria entradas e bandeiras. então, lá pelas tantas chamamos o garçom e perguntamos se na casa tinha uma entradinha. tinha...foi a salvação da lavoura, porque da hora que pedimos os pratos até o momento em que eles pousaram na nossa frente deve ter levado quase uma hora. a fama do lugar é de uma comida excelente. por conta disso, resolvemos dar um desconto para a precariedade no atendimento. escolhi um cordeiro com cobertura de pistache. na verdade, escolhi o pistache. sou uma pistacheira! uns minutos após a última garfada, uma pontada na barriga. outra e mais outra. pedi licença e aí, me abstenho dos detalhes para que esse texto não ganhe ares nem cheiros escatológicos! mas, o resultado é que nenhuma das calorias ingeridas no jantar vai contribuir para aumentar o meu peso. quando a conta veio, descobri que eu tinha desperdiçado 150 reais. como que pode, né?? um lugar caro pra cacete, com um atendimento ruim pra dedéu e ainda por cima a comida faz mal???!!! mas, dando uma de pollyana, ainda bem que não estava acompanhada de um distinto cidadão...como mesmo que eu ia explicar que, como diz meu filho, eu sou uma moça do china in box??

sobrevivemos

a preta vivia ameaçando a sair de férias, mas ela acabava se enrolando com uma coisa aqui e outra acolá e ia ficando. como diz o viáfora, "a lua foi bater no mar e eu fui, que fui ficando". até que há um mês, ela anunciou que ia mesmo tirar férias. longos vinte dias longe da gente, curtindo a família no maranhão. confesso que somos muito mimados por ela e totalmente estragados. a comida é ótima, o astral é divino, a casa tá sempre em ordem e o que ela paparica os bortoninhos não está no gibi. mas, o tal de getúlio vargas me inventou essa conversa de leis trabalhistas (rs) e lá foi a preta toda pimpona pra rodoviária. ela até que propôs uma prima ou uma amiga para cuidar da gente neste período, mas bateu um misto de insegurança e preguiça de ter uma estranha dentro de casa e resolvi que a gente ia se virar. quando me refiro a gente, somos eu e o manoel, porque, fala a verdade, esses dois moleques aqui de casa são totalmente pra nada. confesso que foi uma decisão difícil de ser tomada, porque eu sou do tipo de mulher (aliás, não sei porque cargas d'água, é a mulher que tem que saber cozinhar) que não sabe fazer quase nada na cozinha. arroz, nem pensar! feijão, só sei a parte do sonho. mas, dou conta de umas coisinhas, desde que algum cristo pique a cebola e o alho. foram vinte dias de um certo apuro, algumas descobertas, muitas piadas ouvidas e uma constatação. vou começar pela última: eu não sou dona de casa do tipo tradicional, não vou ser, não quero ser e pronto e acabou. não aprendi isso quando criança ou adolescente e não nasci para isso. nunca vão me ver com o avental todo sujo de ovo, mamãe. mesmo porque nem avental eu tenho. talvez por conta disso que um amigo, em tom de piada, espero eu, decretou que eu não "arrumo marido" porque não sei cozinhar. contra-argumentei que nunca soube e isso não me impediu de subir ao altar nas outras vezes. não satisfeito, ele rebateu: mas antes você não tinha quarenta...ótimo!!! a principal descoberta foi que não há nada no mundo pior do que sashimi de frango. a penosa mal assada é incomível. constatei na prática...éca!! mas, foi bom que descobri que o fogão daqui de casa está precisando de um esquema extreme makeover...tadinho...tá meio que detonado! a preta volta amanhã...benzadeus! mas, entre mortos e feridos, sobrevivemos! continuamos lindos e loiros, apesar de sermos um trio absurdamente pouco afeito aos afazeres....

quarta-feira, 26 de maio de 2010

o kit da vez

toda vez que eu viajo, carrego as minhas tranqueirinhas: anéis, colares, brincos e afins numa bolsinha de primeiros socorros. comprei ou ganhei tal bolsinha há anos, quando algum gênio da lâmpada da burocracia brasileira decidiu que os motoristas deviam levar no carro um kit de primeiros socorros. todo mundo comprou uma bolsinha. virou febre nos camelôs da vida, até que um mais iluminado se tocou da bobagem é acabou com a regra. o kit da vez é a obrigação de as crianças serem transportadas em automóveis em cadeirinhas específicas. para complicar um pouco mais, o tamanho das dita-cujas varia de acordo com a idade do pequeno. as pessoas flagradas com crianças nos carros sem o equipamento vão pagar multa de quase duzentos reais, ganhar sete pontos na carteira e o carro vai ser apreendido. imagina a cena: a pobre da mãe com o carro preso nos detrans da vida com o moleque gritando ao lado. antes de levar uma bronca, preciso ressaltar que nunca nesta vida meus filhos ficaram em um carro em movimento sem cinto de segurança. somos tão neuróticos com isso, que pedimos aos adultos que entram no carro que coloquem o cinto. mas, vamos à realidade. como vai ser a vida da mãe que depende de carona? com uma mão ela carrega o menino, com a outra a sacola do menino, a bolsa dela própria e a cadeirinha? e quem viaja? vai carregar a cadeirinha no avião, ou no ônibus para que ela seja instalada no carro a ser usado fora de casa? o conatran estuda a possibilidade de estender a medida para os transportes urbanos. onde mesmo que os motoristas de táxi vão guardar quatro cadeirinhas diferentes se isso acontecer? ou, então se tiverem mais juízo, vão simplesmente se recusar a fazer viagens com crianças pequenas como passageiros e por aí vai. para ficar um pouco pior, é lógico que tal regra vai funcionar, se pegar, apenas nos grandes centros. no interior miserável deste brasil, em que as crianças são levadas para a escola em boléias de camionetes velhas, alguém vai cobrar uso de cadeirinha? será mesmo que não é hora de os fazedores de leis desse país começarem a pensar no que é viável? no que é razoável? no que pode ser fiscalizado? que tal os homens públicos aprenderem a enxergar o brasil como ele é? tá certo que não somos só a índia, mas estamos longe de bélgica! tem dó, né!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

voz de deus!

desisti dessa vida! nunca mais mesmo eu vou arrumar um namorado. casar, então? nem em sonho! essas duas coisas não são pro meu bico! vou virar uma solteirona, mas ainda tenho que decidir que tipo de solteirona que vou ser. posso ser daquelas que usam saias escuras e compridas, blusas vetustas, cabelos presos em coques. missa dia sim e dia também. vou me casar com deus. ou, posso virar do tipo moderninha, que não se toca que o tempo passou e insiste em se vestir e se comportar como se ainda vivesse o frescor dos vinte. mas, essa escolha eu posso fazer mais adiante. o que importa agora é que eu resolvi não namorar mais e nunca mais na vidinha que deus me deu, outra escova de dente vai fazer parzinho com a minha! e por que mesmo decisões tão decididas? porque eu detesto homens que usam camisa pólo. eu odeio camisa pólo. acho que não tem nada mais feio do que camisa pólo! muito que bem. adivinha qual era o modelito de todos os moços que me convidaram para sair nos últimos tempos? camisa pólo!!! entendi que é um sinal divino. larissa, grita o senhor, se contente com a solidão das sextas à noite e dos domingos à tarde! afinal: quem sou eu pra ficar contrariando a voz de deus?

sempre pode ficar pior

sabe aqueles momentos da vida em que as coisas até parecem que estão dando certo, mas a uruca está rodeando. e ela fica lá, só esperando para dar o ar de sua graça.  tá assim agora. e o pior é que as esquisitezas vão simplesmente surgindo e eu nem sei bem de onde elas vêm. acha que é exagero, meu? olha só. na sexta, depois de um longo e tenebroso inverno de total abstemia alcoólica, resolvi botar o pé na jaca. muito responsável que eu ando, deixei o carro em casa. a noite tava uma delícia, até que na saideira, antes de me mandar pro táxi, o último xixi. não sei como aconteceu, mas depois do problema resolvido, o anel que eu amo simplesmente resolveu pular do dedo e mergulhar na privada. tava lá o coitado..no fundo..rodeado pelo mais puro líquido resultante da cervejada...mais que rapidamente, chamei minha amiga para uma confabulação: o que fazer? ela, que vai ver tinha bebido um pouco mais do que eu, se voluntariou para fazer a pescaria. a nossa sorte é que a gente tava tão desesperada e falando tão alto que a garçonete gritou lá da cozinha: tem luva!! tem luva!! muito bom. entre mortos e feridos, tudo deu certo. depois de uma boa lavada na pia, o anel voltou para onde nunca devia ter saído. ainda na sexta, um moço que eu acho muito bonzinho, decidiu que a minha casa parece um museu. quase morri!!! eu, que tenho o maior capricho com meu canto na vida, ouvir que meu cafofo é um museu. o moço esclareceu: parece museu, porque é tudo muito organizado. muito bem! a emenda ficou pior. o recado foi que eu tenho mania de arrumação. mas, vamos que vamos. no sábado, o maior festão e a lombar resolveu me lembrar que ela existe. todo mundo dançando e eu tortinha. hoje, procurei ajuda. o sobrenome do médico era oba. oba! pensei, eu. vai dar um jeito em mim na hora. a boa notícia é que a coluna tá ótima. a encrenca é apenas muscular, mas o oba me chamou de gorda....mandou emagrecer e fazer ginástica. mas, só depois de as dores passarem. em suma. é para emagrecer, sem malhar. como fazer isso? fechando a boca totalmente. o moço do raio x, por sua vez, me chamou de velha!!! não satisfeita, ainda hoje, fui ao cartório,  para dar baixa na hipoteca da casa. o tal cartório fica num prédio nojento, absurdamente asqueroso. na entrada do tal edifício, um moço queria me vender um rayban devidamente falsificado. o cheiro do lobby era de peixo frito velho! sabe aquele tradicional cheiro de peixe!!! mas, tava valendo..peguei a minha senha. 530. umas quinze pessoas na frente. todo mundo com aquela cara de cartório. quando chega a minha vez, a moça me dá duas notícias: que o documento que eles iam me dar custava duzentas pilas e como o documento do banco veio de são paulo e eu teria que autenticar o carimbo do cartório paulista. e como é que eu faço isso mesmo? tinha que ir em outro cartório e lá eles resolviam. tá bom! outra senha! outra fila! outras pessoas com cara de cartório!. carimbos autenticados, lá vou eu de volta pro cartório número um. terceira senha, terceira fila e no final, duzentos reais mais pobre. bom, depois disso tudo, vim trabalhar, né! antes de sair do carro, o espelho me disse que a cara de cartório tinha coisificado em mim. mas, nada que um batonzinho não desse jeito. agora..daqui a pouco vou para casa e só pensando, pode ficar pior? é bom me cuidar, porque vai ver pode....

sexta-feira, 21 de maio de 2010

bobagem

tudo bem que depois de uns anos, eu fui ficando mais cínica e mais cética. ainda tenho muita fé no homem e na bondade que o homem tem. mesmo porque, se eu não crer no homem, vou acreditar em que? domingo passado, li um texto da bel kutner em que ela fala das dificuldades de ser ateu. ela tem razão. é complicadíssimo. até atrapalha na hora de arrumar namorado. conheço o moço e lá pelas tantas, vem a pergunta: qual a sua religião? não tenho religião, é a resposta. o cidadão não se dá por satisfeito, e insiste, mas você acredita em deus? não, não acredito, é a resposta. aí...o climão se instala. até parece que eu disse que tenho frieira, ou herpes, ou tenia solium no cérebro. mas, lá pelas tantas, o moço volta ao tema: mas, você (eu) ainda é nova e tenho a certeza que você vai passar a acreditar em deus. e mais, se o nosso namoro der certo, eu vou te levar pro rumo do senhor. mal sabe o rapaz que naquele momento, o namoro que não existia ainda, estava natimorto. bom. como disse, acredito no homem, mas tem umas coisas que acho de uma bobagem tão estúpida. tão absurda, que até dá vontade de dar uma voltinha lá pelo alasca, para não ter que ler jornais, nem ver televisão ou ouvir rádio. a bola da vez é o tal projeto ficha limpa. alguém reparou nas fotografias, que senadores cheios de processos nas costas estavam na noite da votação com um adesivo no terno, defendendo o projeto? pois, é. tavam lá. todos pimpões. quase os 81 senadores votaram a favor. sabe por que tanto apoio? porque é ano de eleição e a imprensa brasileira resolveu por bem que o ficha limpa é a salvação da lavoura e quem mesmo que tem coragem de bater de frente com a jornalistada? além disso, peloamordedeus, alguém acredita mesmo que esse projeto vai limpar a política brasileira? olha só. não pode concorrer o cidadão condenado por um colegiado de juízes. no caso dos políticos da esfera federal, o tal colegiado é o pleno do supremo tribunal federal. quanto tempo mesmo que o stf leva para julgar um processo? hoje mesmo, o supremo condenou um deputado a seis meses de prisão. só que o crime está prescrito desde 2004. então...o deputado vai ficar livre, leve e solto. que tal parar de brincadeira e levar a sério. tem jeito de dar uma limpada na política? deve ser que tenha, mas passa a hora de pararmos com a ingenuidade do fim da corrupção. esse é um fenômeno que existe em todo e qualquer canto. enquanto estou aqui martelando nas teclas, um mundo de gente está por aí, matutando um jeito de dar uma roubadinha. mas, ainda assim, há umas providências muito mais sérias que o tal ficha limpa que podem ser tomadas. que tal estabelecer o financiamento público de campanha? é um ponto final na promíscua relação entre candidatos e doadores e que tal reduzir ao mínimo o número de funcionários que são contratados sem concurso público? quantos e quantos escândalos têm como origem essas duas questões? além disso...o que fazer para a justiça ficar mais ágil? há um projeto de código de processo penal adormecido no senado há uns seis meses...e por que não votam? porque quem quer a justiça mais ágil? vai ver só o cidadão de bem!!!

domingo, 9 de maio de 2010

a menina da foto

entre as muitas fotos que estão espalhadas pela minha casa, há uma em que estou no colo do meu pai na piscina. na fotografia, que é em preto e branco, eu sou uma menininha muito magrinha, só de calcinhas, muito clara e com uma cabeleira revolta (como é até hoje) e escura. acho que essa é a única foto que tenho com meu pai. acredito que nos anos setenta não havia muito o costume de tirar retratos e, eu e ele não tivemos muito tempo para outras fotografias. ele se foi algum tempo depois. essa foto está no meio de muitas outras. a dona carolina é muito mexenta, e adora fazer um check list  aqui em casa. toda santa vez que ela aparece na área, vai de objeto em objeto para ver se há novidades. sempre encasqueta com as mesmas coisas. e coisas que ela está careca de saber que não pode mexer. não, não pode mexer nos bichinhos de cristal, nem na bonequinha russa. mas desta vez, ela parou na foto da menininha com o pai. não sei se eu ou a karina, mas, ao ser perguntada quem era a menina na foto, a carol não titubeou: sou eu. é a caiol. não, carol, é a tia aíssa. isso, carol, sou eu na foto. não. não é. é a caiol. ela insistiu várias vezes e lá pelas tantas, com ameaça de choro. como, a perspectiva não era das melhores e naquele caso, contrariar a carol não ia nos levar a lugar algum, deixamos assim mesmo. mas, aí, perguntamos. tá bom, é a carol no colo e, então, quem é o moço que está com a carol no colo? resposta dela: é a vovó. não, carol, não pode ser a vovó. a vovó é mulher e essa pessoa é um homem. quem é então? é o vovô, foi a resposta dela. de onde ela tirou isso, não tenho ideia, mas decidiu que a menininha é ela no colo do vovô. infelizmente, a carol pegou um avião de volta para casa. e agora à noite em casa. já no sossego, tive tempo para ver um episódio de grey's. ando implicando com a série, mas não consegui assinar o papel do divórcio. coube à cristina yang cuidar de uma menina de nove anos, cuja mãe estava sendo operada e acaba morrendo na mesa de cirurgia. antes de saber da morte, a pequena pergunta como seria se a mãe morresse e a cristina vai explicando quais as sensações que temos quando perdemos um ser amado. mas, depois de colocar a criança para dormir, a cristina desaba: i miss my dad! é cristina, i also miss my dad e como seria bom se num dos porta-retratos aqui de casa tivesse, de verdade, uma foto da carolina no colo do avô.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

dia das mães

disse vinícius: filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabê-los. disse o tourinho: filhos, melhor não tê-los, mas se tê-los, onde metê-los. esse texto é sobre ser mãe e sobre ter filhos e em atenção à uma provocação recebida. tenho um pequeno, mas fiel fã clube, e andei me descuidando dele. so...vamos lá. eu já fiz um monte de bobagem na vida. não dá para listá-las, porque o espaço é pequeno para o tanto de bestagem feita. mas, já peguei carona sozinha na baixada fluminense, já transei sem camisinha com desconhecidos, já transei sem vontade, casei com o homem errado e comi o pão que o diabo amassou. a lista é bem grande. mas, como sou absurdamente tássia, não me arrependo de nenhuma delas. elas são o que eu sou. eu sou uma produção também das bobagens feitas. em compensação, muitas e muitas vezes escolhi a porta certa e entrei. muito bem, que às vezes eu tinha que ficar grande ou ficar pequena, que nem a alice, para atravessar os portais que foram se escancarando à minha frente. de qualquer forma, eu passei por eles.também não me arrependo dos acertos, mesmo que eles, muitas vezes, sejam muito mais monótonos do que as escapadas. não existe nada melhor, por exemplo, do que uma trepada sem plástico. só que não pode, né. bom, o tema não é minha aversão à borracha, nem a infeliz alergia que eu tenho à substância. mas, ser mãe. quando meu primeiro filho nasceu, eu era quase uma menina. é claro que eu achava que não. como disse linhas atrás, eu sou muito metida. achava, então, que tinha toda a maturidade e responsabilidade do mundo para cuidar de uma outra vida. hoje, vejo que não tinha. aliás, nem sei se tenho atualmente, porque, fala a verdade, ser responsável por um outro ser é uma tarefa pro batman e eu não sou nada super herói. mas, depois de quase uma semana que o moleque passou no hospital aprendendo a respirar, lá estavam nós dois. a hora do juízo final. não tinha outro jeito. era eu e ele. é lógico que muitas outras pessoas ajudavam, mas no frigir dos ovos, eram nós dois. foi fácil? não. não foi. me lembro de ter deixado de comprar comida para nós adultos, porque o pequeno tinha alergia à lactose e leite de soja àquela época era cotado a preço de ouro. hoje mesmo comprei novomilke para a carol e achei a maior graça no preço. mas, há 21 anos, eu era umas cinquenta vezes mais dura e a soja caríssima. mas, nunca faltou. desenvolvi pânico. achei que não daria conta. mas, fomos que fomos nós dois. me lembro como se fosse hoje, de ele cantando pintinho amarelinho no colo da primeira professora e o mais esquisito era que ele era muito maior do que o resto da turma, apesar de ser o mais novo. tão branco o menino. só tinha olho! o moleque foi crescendo junto comigo e lá pelas tantas reivindicou um irmão. o seu desejo é uma ordem. lá veio o outro. mais um susto. mais um tempo para o menino aprender a inspirar e a botar o ar pra fora. mas, lá estava eu de novo com uma coisica minúscula. porque, esse era um trisco. só tinha cabelo. ao contrário do irmão, a cabeleira era da cor das penas do tiê. dessa vez, foi mais fácil. o miserê era menor. eu tinha onde cair morta. mas, para isso, trabalhava três turnos. no primeiro aniversário desse pequeno, fui parar no hospital logo após a festa. pneumonia, o diagnóstico. se a dona aparecida tivesse viva, ela teria dito que a moléstia era do tipo galopante. o médico queria internar. negociei por uma dose cavalar de antibiótico. mãe internada não orna. e continuei a virar gente grande ao lado dos dois. apesar de toda a correria, não perdi uma festa, uma apresentação. acho que já escrevi isso, mas não há preço que pague a alegria do olhar do filho, quando ele te enxerga no meio das outras mães. em compensação, nunca tive coragem de levar pivete para tomar vacina. se dependesse de mim, eles tinham pegado toda e qualquer pereba, mas eu, simplesmente não dou conta de ver filho meu sentindo dor e isso até hoje. e é tão engraçado isso. atualmente, eles se machucam e já gritam para eu não chegar perto e o lucas vive me vigiando para assegurar que eu não me suicide involuntariamente, porque eu tento, às vezes.  falo que passei dos vinte aos trinta cuidando de menino pequeno. todo mundo viajava e eu lá...pajeando menino. hoje, mais de vinte anos depois, posso dizer com toda a certeza desse mundo, que não há nada que eu tenha feito na minha vida, mas nada, de jeito nenhum, melhor do que ter tido a coragem de colocar esses dois no mundo. atualmente, ando com vontade de repetir a dose, mas não sei se tenho a enegia suficiente para começar de novo. gosto de dormir a noite inteira. gosto de sair. gosto da autonomia conquistada. mas, a vontade está lá. dia desses, não sei quem falou de eu ser avó. nem penso nisso. se for para ser, o que eu quero é ser mãe mais uma vez. e depois desse tempo todo, eu tenho duas certezas. a primeira é que por mais que tenha feito tudo para acertar, eu errei aos montes. por isso, é obvio que eles vão falar mal de mim pro analista. o que eu faço é me conformar com isso. eu sou gente e gente faz merda. a outra certeza é que a felicidade deles depende da minha felicidade. por isso que eu brigo para as mães priorizarem a felicidade delas. mãe infelizes criam filhos infelizes. não tem outro jeito. acho que é isso. ah! os presentes de dia das mães são benvindos.....