domingo, 14 de novembro de 2010

a cama do getúlio

sabe vó com jeito de vó! eu tive uma assim. cabelo branquinho, sempre penteado para trás. meio surda e com as vistas embranquiçadas pela catarata. fazia um crochê lindo! era ótima no baralho, apesar da visão curta. toda noite rezava um terço para as filhas e os netos. apesar disso, não era de frequentar igrejas e nem era carola, com ideias cafonas e preconceituosas. enfim...a minha vó era simplesmente perfeita. quando eu era bem menina, ela morava no flamengo. na avenida praia do flamengo. bem no comecinho - tipo uns 500 metros do palácio do catete. eu ia muito à casa dela. passava lá uns três meses por ano. e adorava. nesta semana, eu fui ao rio. por um acaso, fiquei em um hotel no flamengo. por mais coincidência ainda, o hotel ficava ao lado do palácio do catete e assim, pertinho, pertinho do apartamento da minha avó. nem preciso dizer que foi um prato cheio para as lembranças. batendo perna pelas ruinhas do catete, me recordei das muitas e muitas vezes em que nós duas e a empregada íamos ao supermercado, ou à feira. dos filmes da disney que vimos no lido - que aliás, não existe mais. virou igreja! mas, a lembrança mais gostosa dos passeios com a minha avó eram os que nós fazíamos ao palácio e aos jardins do palácio do catete. só de entrar lá, já era uma festa. por conta do piso de taco, nós tínhamos que calçar umas pantufas...adorava deslizar pelos corredores do prédio antigo. mas, a arte mor...o mais divertido e o que deixava minha avó apavorada era que eu sempre dava um jeito de deitar na cama em que o getúlio se matou. virava a atração do passeio e a vó, fazia de conta que não, mas era igualmente levada. a bronca que ela me dava era meio de mentira! achava graça da rebeldia da menina branquinha, muito magra e comprida e com os cabelos completamente bagunçados. com muita frequência, levávamos bronca dos seguranças. ela aproveitava para me repreender! pito tomado, as duas iam para o parque!! quando se aproximava a hora do almoço, a gente ia para casa. lá tinha até banheira. para a menina que crescia no interior de goiás e depois em um apartamento mínimo na colina, já em brasília, banheira era o máximo dos luxos. geralmente, às tardes, a vó dormia e fazia crochê e eu brincava com a minha enorme coleção de bonecas de papel. tirava roupa, colocava roupa, desenhava roupa...as minhas bonecas pareciam modelos...dessa vez não deu tempo para entrar no palácio. só perambulei pelos jardins, mas da próxima, dona aparecida, prometo dar um jeito de dar uma deitadinha na cama em que morreu o ditador. saudades!! mas saudades boas!!

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