quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

eu também sinto medo e muito!!

dia desses no carro, meu filho mais velho estava reclamando que o menor não conta o que acontece com ele e aí fica muito difícil para ele cuidar do pequeno. mãe, às vezes ele se ferra e não fala nada!! como mesmo que eu vou protegê-lo!! aí, vira eu: e a mim? quem cuida de mim? ah, mãe!! você é uma das pessoas mais valentes que eu conheço. não precisa de ninguém cuidando de você, não. êpa!! qual é, moleque? nem sou tão corajosa assim e, na verdade, preciso muito que cuidem de mim! tenho medos que nem todo mundo, e o medo maior é o de perder pessoas amadas. vivi esse medo com muita intensidade no dia 29 de novembro de 1993. dois dias antes, tinha vindo ao mundo meu filho mais novo. fez o favor de dar o ar de sua graça sessenta dias antes da data certa. foi até bom, porque ele queria porque queria chegar ainda antes. foi um esforço engabelar ele até o sétimo mês. mas teve uma hora que nem a mãe e nem o moleque aguentavam mais. o resultado foi um parto de emergência e um pequenininho que ainda não sabia respirar. corre com o moleque para o respirador. uma máquina tinha que fazer o serviço que os pulmões ainda não sabiam como. a maternidade não era das mais equipadas e na manhã do dia 29, me peguei sozinha no quarto do hospital. todo mundo sumiu. lá pelas tantas me aparece o pediatra do filho mais velho, já meu amigo. veio com uma conversinha mole, mas diante de tanta pergunta contou: o bebê foi removido! o pânico veio com força total! removido é quem está morto! ele morreu?, perguntei. não, mas achamos melhor levá-lo para outro hospital com uti, mas fica tranquila, que está tudo bem. ah, tá! quem tá bem vai mesmo para uti. me dei alta da maternidade onde estava, para desespero das enfermeiras e sem o consentimento da obstetra e me mandei de táxi para a tal uti. quando lá cheguei, ouvi um choro alto, de homem. não sabia quem chorava, nem de onde vinha, mas logo descobri que o desespero era do pai do meu filho. o pânico voltou com mais força ainda: agora danou-se! mas, o chefe da uti nos explicou que as chances do pequeno eram enormes. ele era grande para um prematuro (e era mesmo em comparação com os outros nenês que estavam por lá). e que ele tinha a certeza que tudo daria certo. foram seis dias de vigília e angústia. nessas horas todas, alguns sustos, mas tudo funcionou com devia e antes de uma semana de uti, o rapazinho teve alta. mas a gente ainda não podia ir para casa, porque ele fez o favor de ficar com icterícia. mais uma noite de hospital tomando banho de luz. pedi para a família para ficar sozinha com ele aquela noite. seriam as nossas primeiras horas juntos. seria a primeira vez que eu poderia pegá-lo no colo por horas...trocar a fralda, amamentar direito. era um momento só de nós dois. me lembro que fazia um calor absurdo em brasília e a luz forte do aparelho anti-icterícia transformava o quarto numa sauna. tinha até ar condicionado, mas quem disse que eu tive coragem de ligar o aparelho! e se ele pegasse uma pneumonia galopante por conta do ar frio??? na manhã seguinte, eu e o pequeno de pele bem branca e uma cabeleira muito preta fomos para casa. isso, quase dez dias depois do nascimento. durante todo esse período, eu fui cuidada e recebi o carinho de muitos, mas nada era capaz de amainar o meu medo. estava em permanente estado de pavor. medo de perder. medo de não dar certo. um medo tão enorme, que nem dá para descrever. dia desses, esse moleque virou para mim e disse que ia para uma festa de uma menina de 17 anos. que isso, menino!!! desde quando você vai em festas de gente tão mais velha??? mãe, daqui uns dias, eu também faço 17! foi quando a ficha caiu. o meu  caçula está quase "de maior". o medo hoje é menor, mas está presente. medo de ele e do irmão não serem felizes. medo de eles sofrerem e eu não poder evitar essa dor. medo do que a vida de adulto reserva para esses dois e sem eu estar lá para proteger. mesmo porque, uma hora eles vão ter que encarar o mundo sozinhos. o meu consolo é que os dois já avisaram que não pretendem sair de casa tão cedo...muito bem, meninos...vão ficando...podem ir ficando!

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