terça-feira, 6 de abril de 2010

aprender a amar - uma carta para o andré.

de onde vem o amor? os religiosos vão responder que é um dom divino. os biológicos podem explicar que o amor é uma estratégia para a preservação da nossa espécie. mas, independente das teses, a gente aprende a amar antes mesmo de quase todo o resto. o primeiro amor de cada um  é a pessoa que primeiro toma conta. aquela que mata a fome, nos mantem secos, limpos e aquecidos. nos faz dormir, consola das dores.  ao longo da vida, a lista dos seres amados vai crescendo. a nossa família, os amigos, os primeiros namorados, os muitos namorados. nossa!!! às vezes a gente acha que ama tanto que vai explodir de tanto amor. o cérebro fica completamente bêbado de endorfina. como diz o zezé: é o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim. lá pelas tantas, temos a certeza que somos pós-phd na disciplina amor. só que de repente, de uma caixa d'água só, descobrimos o nosso total analfabetismo na matéria. eu só aprendi o que era o amor de verdade no dia 07 de abril de 1989. para ser mais exata, lá pelas quatro e meia da matina. os acontecimentos na minha vida sempre foram um pouco antes da hora. eu não planejava ficar grávida, mas também não tomava providências para não ficar. um belo dia, apesar do meu estômago de avestruz, eu amanheci vomitando. a sessão cara na privada se repetiu na manhã seguinte. no terceiro episódio, fui à médica. e, não estava com gastrite, mas prenha. prenhíssima! nem assustei. achei graça. vai ver porque eu era muito nova e com o senso de responsabilidade muito frouxo.  foram meses absolutamente tranquilos. eu tinha umas chatices. não podia sentir cheiro de cominho (não posso até hoje e não entendo como alguém no mundo usa esse tempero), camarão - nem em sonho, ônibus lotados estavam vetados e vez em quando eu dava uma desmaiadinha. tirando isso, fiquei jóia. apesar da barriga que crescia em progressão geométrica, não sentia nada. a estréia do moleque estava prevista para a primeira semana de maio. lá pelo dia dez. e a barriga aumentando. virei um s. só tinha barriga e bunda! no começo da noite do dia seis de abril, eu tava sozinha em casa. um apartamento alugado no terceiro andar de um prédio sem elevador. no primeiro andar, funcionava uma casa de saliência. vizinhaça bem interessante. tava deitada no chão vendo televisão, eu acho. ou podia estar lendo. mas quando levantei, um tantão de água jorrou. muito bom! a tal bolsa tinha estourado. e quem é que disse que eu conseguia achar o moço responsável por aquela barrigona. naquela noite acontecia uma assembleia no sindicato e o meu marido sindicalista estava lá. eram tempos pré-celulares. e o fixo do sindicato só dava sinal de ocupado. liguei para minha melhor amiga e para minha mãe e irmã, enquanto tentava achar o marido. lá pelas tantas desocupou o telefone e consegui mandar o recado: volta correndo pra casa que o moleque resolveu dar o ar da graça antes da hora. umas sete da noite, o quarto da maternidade estava tomado por uma multidão. uns dez indivíduos  na espera. enquanto isso, eu sofria de uma dor que nem imaginava que existia. doía e doía, mas a médica mandava eu esperar. afinal, um mulherão deste tamanho tem que dar conta de pôr menino no mundo do jeito natural. a agonia foi até a madrugada, quando por obra do anjo miguel, surgiu uma pré-eclâmpsia. corre pro centro cirúrgico. oba!!! anestesia!!! oba!!!  peridural!!! oba!!! eram quase quatro e meia da madrugada do dia 07 de abril de 1989, quando o moleque chorou. apesar de ser apressadinho, era enorme. maior do que os bebês que nascem na hora certa. já de cara ele me ensinou três palavrinhas: membrana hialina e surfactante. por causa delas, foram cinco dias de uti neonatal até ele aprender a respirar. aprendeu bem. ele a respirar e eu a amar de verdade. obrigada, andré por ter me ensinado o que é o amor!

2 comentários:

  1. Que lindo, Larissa!
    Eu tb só descobrir o amor visceral, aquele capaz das maiores loucuras, no dia 13 de julho de 2004. Beijos
    Dri*

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  2. Parabéns, Larissa!!!! Parabéns, André, que atingiu a maioridade!!!! O texto o lindo e retrata bem o seu jeito intenso de amar esse filhão lindo!!! Adoro vocês!!! Vou ligar para falarmos pessoalmente....bjusssss Bel

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