quarta-feira, 21 de abril de 2010

o girassol

eu demorei anos para ter coragem de tatuar meu corpo. nem era por causa da bobagem de ter uma marca para sempre. quem tem dois milhões e trinta e seis sardas nas costas não tem medo de marca alguma. o corpo é naturalmente tatuado. isso sem falar nas outras tatuagens que ganhei ao longo da vida. algumas não visíveis a olho. na verdade, eu sempre tive medo da dor. eu tenho pavor de dor. tenho uma teoria que é porque eu já esgotei a minha cota desse sentimento. sou do tipo que pede anestesia pra qualquer coisa. pode dar anestesia? então, tá valendo. a sorte é que há umas dores que nunca experimentei, e nem pretendo fazê-lo. tô fora! mas, lá pelas tantas me enchi de coragem e fui ao estúdio do tatuador. por que mesmo que é estúdio, não sei, mas tava escrito na porta. o desenho fora escolhido há anos. sempre quis carregar comigo um girassol. não tem flor mais bonita, mais valente, mais corajosa. achava e ainda acho que se marcasse um girassol em mim essas qualidades poderiam passar por osmose. acho que não funcionou muito não, mas no meio de uma constelação de sardas, lá está o meu girassol. só que muitos sóis depois, a cor foi se esvaindo e minha flor perdeu seu brilho. como estou igualmente em fase de pouco brilho, estou novamente apostando na osmose e, mais uma vez, tomando coragem para encarar essa dor. que, pensando bem, é canja de galinha perto de muitas outras!

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