terça-feira, 20 de abril de 2010

pular a risca de giz

eu fui apresentada às letras muito cedo. mais cedo do que devia, eu acho. não sei com qual idade as pessoas aprendem a ler e a escrever, mas eu lembro de mim muito novinha enfeitiçada pelas placas que lia na estrada, quando meus pais me levavam em viagens. como meu pai morreu quando eu tinha sete, deve de ter sido muitos anos antes, mesmo porque aos sete, eu já estava na terceira série e achava que grama era a principal produção agrícola do distrito federal. o pior é que eu continuo achando. mas, ao aprender a ler, comecei a ler e ler muito.dos escritores de verdade, a avant premiere foi monteiro lobato. nem era gente ainda e já tinha matado a maior parte dos livros infantis. fui por anos, a narizinho nas brincadeiras infantis. depois, me acabei com o amado. nem sabia o que era desejo, quando os livros do jorge despertavam em mim emoções até então bem esquisitas. depois, ainda nos brasileiros, veio o érico. mesmo porque, a larissa achava que se chamasse clarissa a vida seria um pouco mais fácil. até hoje eu soletro  larissa - éle a érre i,s, s, a. imagina há 35 anos. o bortoni, então...são outros quinhentos...mas...de volta ao gaúcho, comecei por clarissa. da menina ao vasco foi um pulo. e a descoberta do primo foi como uma benção. que nem ter encontrado o santo de devoção. o conformismo da clarissa nunca ornou com a larissa. mas, a rebeldia infanto do vasco era um prato cheio para a menina, quase moça, que calçava 36,5, quando o mundo insistia no 35. o vasco era meu homem. como diz o obama, era o cara!!! em um lugar ao sol,  o pai do vasco, que até então era descrito como o escroto mor, que ao abandonar a mulher, causara o suicídio da moça, aparece. numa cena, álvaro bruno provoca vasco. pula a risca de giz, diz o velho, ao estimular vasco a abandonar a vidinha miserável que levava em porto alegre e encarar o mundo. pular a risca de giz....esse é o ponto. como é difícil fazer isso. posso dar exemplo de um tanto de pessoas que eu conheço, mas acho mais justo mirar a lupa em mim mesma. eu passei os últimos dez anos da minha vida nas mãos de um indivíduo que me fez mal. muito mal. mal que, como fodona que sou, quase ninguém tem a noção do tamanho. eu, muito determinada, muito forte, no alto dos meus 1,70, coloquei na cabeça, que ia fazer aquele cidadão me amar. só que não me toquei do custo a pagar. consegui meu tento, mas paguei um preço impagável até ter coragem de pular a risca de giz proposta por álvaro bruno. mandei o sujeito embora da minha casa, o que para os nativos de carangueijo é um feito e tanto. mas foram mais de dois anos para chutá-lo de vez da minha vida. dei conta....só eu sei como e o que me valeu. mas....entre mortos e feridos, eu me salvei. e, confesso que hoje, quando vejo pessoas em situações iguais, a vontade maior é de dizer, gritar, esbravejar: peloamordedeus...não leva dois anos para pular a risca de giz. sei que é punk. sei que o desconhecido é assustador, mas dificilmente a dor a vir vai ser maior que a dor já experimentada. pula logo a risca de giz. vai em busca do novo. não tem jeito de a dor que pode vir a vir ser maior do que a dor já sentida. além do mais, há o risco de ela não vir. e olha só, pode ser apenas a dor do não ser amada ou de não amar. o que a gente não sabe como é, é de fato esquisito, mas é sempre melhor do que o esquisito já conhecido. do esquisito que mora ao lado. ei...dona larissa....você já aprendeu.. ficou marrom...pula a risca....

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