quinta-feira, 15 de abril de 2010

o que podia ter acontecido, mas não foi...

enquanto eu lia, ele olhava. e olhava mudo, sem dizer uma única palavra. só olhava. eu fazia de conta que não estava vendo que ele olhava, mas, na verdade eu tava. e perguntava: o que foi? nada não. e os olhos do moço voltavam para a tela do computador e os meus para a folha de papel na mão. e eu voltava a fingir que lia e ele voltava a olhar. e perguntei de novo: o que foi, mais uma vez: nada não. e ficamos assim: nem ele me contou o que estava pensando, nem eu tive coragem para insistir em saber. mas, a imaginação voou naqueles poucos minutos em que os olhares quase se cruzaram. mentira, minha. os olhares se cruzaram algumas vezes. e se ele tivesse dito. se ele tivesse me falado que não era para eu ter desistido de paquera-lo. e se eu não tivesse desistido. se, tivesse pagado pra ver. a consequência maior seria o não acontecer. o zero a zero, que nem é agora, já que abandonei o campo de jogo. mas e se o placar fosse outro. se desse uma zebra. e aí eu poderia saber qual o gosto do beijo do moço. muito mais do que isso. conheceria os sonhos, os medos, veria se ele tem unha encravada, se canta quando toma banho, se lê mais de um livro ao mesmo tempo, como é a cara quando a barba cresce um pouco mais. poderia dizer a ele que eu não fumo maconha, porque quando eu faço essa arte, tenho ideias muito pouco cristãs. ele poderia saber também que eu tenho uma pinta enorme no meio da perna, poderia contar uma a uma as sardas que povoam as minhas costas. mas...apenas os olhos se encontraram. nada mais.

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