sábado, 5 de junho de 2010

moço, compra meu vale?

essa aconteceu há um milhão de anos. eu ainda estava no segundo grau, que atualmente chamam de ensino médio. devia ter uns vinte quilos a menos, ainda usava óculos, as espinhas tomavam conta do rosto e os cabelos não tinha experimentado as delícias da tecnologia capilar. na época, era alisabel e olhe lá. ficava lindo o cabelo!!! não sei o que era mais complicado: domar o volume da juba ou ficar com cabelo de playmobil...esticadim...durim...uma coisa. a história aconteceu nesse tempo. eu sou muito diferente daquela menina, mas uma coisa continua que nem que. eu não sei fazer contas. nunca soube. passar de ano em matemática e física sempre foi obra do pai arnápio, que já cuidava de mim  muito antes de eu saber da existência desse poderoso santinho. eu e a minha amiga paula fomos lanchar no conjunto nacional. daí dá para ver a antiguidade do fato. quem hoje em dia vai lanchar no conjunto? nós éramos pobres de marré de si. as duas padeciam de falta de pai e as respectivas mães ainda são professoras. o dinheiro era dos mais curtos. como que a gente fazia? não lanchava....ia a pé pros lugares, vez em quando a gente pedia algum. mas, quase sempre as duas amigas - a fome e a vontade de comer - estavam duras, quebradas...mas, naquele dia resolvemos ir comer quibe numa venda que tinha no conjunto. cardápio nas mãos, fizemos todas as contas e concluímos que daria uns quatro quibes e dois refris. só que nos esquecemos dos dez por cento do garçom e quando veio a conta, quem é que disse que tínhamos dinheiro pra tudo? além do mais, éramos tão tontas que achávamos que os tais 10% eram de lei. muito bom...o que fazer? além do dinheiro insuficiente, só o que tínhamos no bolso eram vales-estudantis. uns papeizinhos que os estudantes usavam para pagar passagem de ônibus. os passes. decidimos que iríamos vender uns passes e completar a grana do quibe. e quem ia fazer o serviço sujo? a paula sempre usou da desculpa que era muito vergonhenta e que eu tinha um poder de argumentação melhor. hoje, sei que ela se aproveitava disso para não entrar cem por cento nas roubadas....lá fui eu com os vales nas mãos à cata de potenciais compradores. e como abordar? pelo menos eu estava arrumadinha e não tinha cara nem jeito, nem nada de trombadinha. pra minha sorte, o primeiro moço que eu abordei, não quis comprar meus passes, mas me perguntou por que diabos eu estava querendo vendê-los. contei a minha tragédia. ele perguntou quanto faltava pra completar a conta e me deu o dinheiro. pude ficar com os vales-estudantis, o que foi a sorte, porque sem eles nós teríamos que ir e voltar da escola a pé montes de vezes. não que isso fosse um problema...mas...de volta à mesa, a paula estava apavorada, porque o garçom devia de ter percebido algo errado e estava na espreita....bom..por um dia, eu fui vendedora da passe estudantil nas proximidades da rodoviária. mais tarde isso virou profissão. hoje não sei mais se fazem isso....

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