sábado, 23 de janeiro de 2010

os meus medos - alguns deles

lá em rio verde, quando os anos eram ainda os setenta, havia o costume de os mortos serem velados em suas casas. aí....saia o cortejo até o cemitério. de quando em vez, da calçada onde brincava ou da janela, a menina dos seus cinco ou seis anos via o caixão com o povo atrás, descendo ou subindo a rua. com muito medo, ela corria para dentro da casa. para piorar a situação, uma das casas onde a família da menina morou ficava perto do cemitério, o que aumentava o fluxo de enterros passando pela porta. mas, para ser franca, a pequena também ficava aterrorizada com procissão. achava a coisa mais feia do mundo as imagens dos santos carregadas nos andores. igualmente horripilante eram as estátuas que ficavam em caixas de vidro nas igrejas, como se fossem caixões. mas foram com os cortejos dos enterros que tive o meu primeiro contato com a ideia da morte. na época, eu tinha um avô, duas avós, duas bisavós, um monte de tia-avó. aliás, até quando eu não era mais menina..eu tinha isso tudo e achava muito bom. morte era uma realidade distante. me lembro que já em brasília, um colega da escola onde eu estudava foi atropelado por um ônibus e morreu. foi um evento no colégio. aos poucos, no entanto, eu fui perdendo as pessoas amadas. ou por doença, ou por velhice, ou por quedas...enfim..eles foram morrendo e lá ia eu para os enterros. ainda bem que não tinha cortejo...nem muita reza, nem imagens de santo. mas...agora que virei gente grande, esta tal de morte, que era algo tão raro, começou a ficar assustadoramente mais comum. tava pensando hoje que todas as últimas vezes que fui a igrejas foram para missas de sétimo dia. e isso está se tornando incomodamente frequente. quem me chamou a atenção para isso foi a karina. segundo ela, até dia desses, todo mundo era saudável, abusava da sorte, fazia estripulias. agora, estamos mais cuidadosos e ainda assim mais frágeis. lembrando o rei leão, ou o leleão, como dizia o andré, é o tal ciclo da vida. a gente nasce, cresce, fica velho e morre. mas, é muito pouco o tempo...podia ser mais um tantão!! é..hoje não tô boa..mas sei que tudo vai dar certo!

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